Opinião: O Almoxarifado do Parque Ferroviário e devaneios sobre a revitalização da Ribeira.
Por muitos anos passei em frente ao Almoxarifado do Parque Ferroviário da Ribeira sem saber o que tinha funcionado naquele prédio, na minha cabeça parecia ser uma estação do circuito de bondes de Natal, e acreditei nisso até hoje.
Ao passar mais uma vez pelo prédio parei para reparar em seus detalhes e percebi que além do abandono, ele está servindo unicamente como estacionamento para os militares do Exército brasileiro que atuam na Base Administrativa da Guarnição de Natal, o que justifica as placas de "Área Militar" fixadas nas paredes brancas.
Tenho dito - cada vez com mais frequência - a pessoas próximas e nas redes sociais - não que eu seja lá grande coisa - que a impressão que as autoridades passam é que estão esperando os prédios da Ribeira ruírem, um após o outro, assim como aconteceu com o casarão que abrigou a antiga boate Arpege, que desabou em 2020. Assim as autoridades e proprietários poderão dar fim mais interessante aos seus gostos àquela região.
Para mim, nada justifica o fato de ter sido dado ao Exército brasileiro o direito de uso deste prédio sem uma contrapartida à população, que seria a restauração do prédio. Nada justifica também que o IPHAN, responsável pelos bens da antiga Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA) desde 2007, não ter incluído este prédio na lista de patrimônios ferroviários do órgão.
![]() |
Mapa aproximado do que restou do Parque Ferroviário da Esplanada Silva Jardim - Autoria: Thomas Albuquerque/Natal Antiga em Foco. |
O Parque Ferroviário da Ribeira foi um marco para a Natal do século XX, principalmente por possibilitar uma ligação entre o porto e a linha ferroviária, facilitando o escoamento de cargas e o transporte de passageiros. Foi instalado após muitos conflitos entre os poderes da época e foi pensado para favorecer a eficiência. Parte do Parque Ferroviário foi tombado pelo IPHAN e hoje forma o IFRN Unidade Rocas além da Estação da Estrada de Ferro Central do RN (EFCRN), que atualmente abriga a sede do DNOCS. No entanto, o Almoxarifado e a oficina de carpintaria foram abandonados, um servindo de estacionamento do Exército e o outro à ocupação Palmares, administrada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).
Sou da opinião de que a restauração e revitalização do bairro da Ribeira passa, invariavelmente, pela constituição de espaços de sociabilidade na região. De nada adianta se tivermos, repentinamente, o bairro todo restaurado se a Ribeira não for convidativa à população. Pelo seu charme, a região tem tudo para abrigar uma vida cultural e noturna inspirada na boêmia de outros tempos, com cafés, restaurantes, galerias de arte, livrarias e sebos, dentre tantas outras possibilidades. Foi o que me veio à mente quando bati o olho no velho prédio do Almoxarifado do Parque Ferroviário: que incrível seria esse prédio restaurado e abrigando um café, com a temática ferroviária do século XX!
Uma pena que isso fique apenas no campo das ideias.
AGRADECIMENTO:
Faço um agradecimento especial ao amigo João Gothardo Dantas Emerenciano, exímio conhecedor da História de Natal, que me auxiliou a conhecer um pouco sobre essa parte tão memorável da História de Natal.
REFERÊNCIAS:
RODRIGUES, Wagner do Nascimento. Tensões e conflitos na instalação de um Pátio Ferroviário na Esplanada Silva Jardim, Natal/RN (1909-1920). UNICAMP. 2011.
PATRIMÔNIO FERROVIÁRIO. IPHAN. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/127. Acesso em: 22/11/2023.
Prédio histórico do século XX que abrigou boate Arpege desaba em Natal. G1. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2020/06/22/predio-historico-do-seculo-xx-que-abrigou-boate-arpege-desaba-em-natal.ghtml Acesso em: 22/11/2023.
Comentários
Postar um comentário