Edifício Galhardo: exemplo da incompetência pública e privada.

 

Edifício Galhardo. Fonte: SEMURB, 1998.

Armazém de Secos & Molhados, gráfica, cenário de filme e até uma casa noturna (cabaré) famosa regionalmente funcionaram no edifício Galhardo. Aliás, foi pelo nome da casa noturna que o edifício ficou conhecido: Arpège. A palavra deriva do francês e está associada à música.

Ele é datado do século XX, construído por volta de 1904 por uma família de alemães. Sua primeira utilização foi como armazém de Secos & Molhados, ocupando o térreo do edifício. Mas em 1941 o Sr. Nestor Galhardo adquire parte do edifício e instala no térreo a sua gráfica. 

Então veio a Segunda Guerra Mundial e Natal, dada a sua posição estratégica e os acordos realizados entre Brasil e EUA na Conferência do Potengi, torna-se base importante para os americanos - a maior fora de seu território - e a pequena cidade é tomada pelos "my friends".

O que conta as histórias é que os americanos gostavam tanto de cabaré quanto de comprar bicho exótico em Natal. Aliás, a cidade cresceu em população e diversas demandas surgiram, sendo supridas pelos comerciantes locais. Como a demanda por carinho e amor em terras tropicais aparentemente estava dentre as mais importantes, o Sr. Nestor logo abriu sua casa noturna, batizada de "Arpège" e ocupando o andar superior do edifício Galhardo.  Não demorou muito para que a boate se tornasse uma das mais conhecidas da região nordeste e frequentada tanto pelos my friends quanto pela boemia potiguar. Reza a lenda que até Vargas e Roosevelt frequentaram o ambiente. É possível?!

Após a morte de Nestor Galhardo, outro Nestor Galhardo - o neto - assume a administração do edifício, mantendo a gráfica até a década de 90, quando foi forçado a fechar o edifício devido à ausência de pagamentos de tributos. 

Depois, a propriedade foi comprada pela empresária carioca Paula Homburger, acreditando na revitalização do centro histórico e com pretensão de construir ali um bistrô, mas tanto a ideia da revitalização quanto a do bistrô não deram certo e o edifício foi abandonado à própria sorte.

O edifício Galhardo no século XX. Fonte: Tok de História

Em 2008 a estrutura do prédio sofreu desgastes devido às fortes chuvas ocorridas na capital potiguar naquele ano e foi notificada pela Defesa Civil. Ele ainda esperou mais alguns anos por algum plano que lhe salvasse, mas nada aconteceu e em 2020 sua história foi consumada: em 21 de junho de 2020 parte de sua estrutura desabou, levando consigo a História e a memória não só de um prédio, mas também de um bairro vibrante e importante para a política e para a sociedade potiguar. 

Foto do dia seguinte ao desabamento. Fonte: Lucas Cortez/Inter TV Cabugi

O que restou do edifício Galhardo em 12/2023. Foto: Natal Antiga em Foco.

O que restou do edifício Galhardo em 12/2023. Foto: Natal Antiga em Foco.

Hoje só restam as paredes do térreo, que ainda insistem em resistir ao tempo - já que, por sorte, ninguém pode colocá-las abaixo - e provar que ali, algum dia, existiu um dos prédios mais movimentados da capital potiguar. É o reflexo da incompetência pública, por não retomar a posse do imóvel e destiná-lo a algum fim, e também da iniciativa privada que abandonou o prédio ao próprio destino.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas