O ponto de partida para a revitalização do centro histórico: Projeto e Roteiro.

 

 

Há alguns anos o discurso predominante acerca do centro histórico de Natal era relacionado ao tombamento. Esperava-se que com ele o sonho da restauração e revitalização da Natal Antiga sairia finalmente do papel. Ocorre que em 2010 o centro histórico foi tombado pelo IPHAN, porém a revitalização do bairro não se concretizou.


Vindo o tombamento, a discussão mudou. Porque o centro histórico, mesmo após tombado, continuava esquecido e abandonado? A responsabilidade foi atribuída ao desinteresse da população e a falta de verbas. Depois a verba apareceu, principalmente com apoio do governo federal via PACs, inclusive uma exclusiva para cidades históricas tombadas pelo IPHAN. Mas, mesmo assim, a restauração do centro histórico não andou. Por quê?


Porque faltavam projetos para as obras. Era o que saía por aí nos periódicos de Natal dois ou três anos após o tombamento, dinheiro não falta, o que falta é projeto, complementavam. 


De fato, não se encontram facilmente os projetos voltados para o centro histórico de Natal, mas com um pouco de empenho, é possível encontrar. Mais do que isso, é possível encontrar também uma proposta de roteiro turístico pelo centro histórico de Natal, com paradas importantes que vão desde a Cidade Alta até a Ribeira. A conexão entre projeto e roteiro é extremamente importante quando se fala da restauração e revitalização do centro histórico, visto que parte daquele território já não tem o mesmo apelo econômico e habitacional de seus tempos áureos. Por isso, é importante pensar novos usos e ocupações para aqueles espaços, garantindo a atração da população local e dos turistas para a região. 


O projeto +Ribeira, publicado na revista Projetar da UFRN, trouxe uma visão interessante para a revitalização da Ribeira. Com um projeto que pretende criar quatro principais rotas de interesses no bairro: o caminho verde, conectando as diversas praças e espaços verdes da área, o caminho do rio com a criação de um deck e píer de atracação para barcos, além de um passeio através do rio, a rota histórica contando com comunicação visual sobre as edificações, e a rota boêmia criando uma rota voltada para os espaços de cultura e lazer.


Apesar de não tratar especificamente sobre o restauro dos prédios históricos, o projeto +Ribeira propõe soluções interessantes visando a ocupação da Ribeira e criando rotas de interesse turístico. Além disso, previa a instalação de ciclovias, mobiliário de uso comum em praças e outros locais do bairro, instalação de estacionamento vertical e de cartilhas e totens informativos no centro histórico. O projeto foi publicado na revista em 2018.


Outro projeto publicado na mesma revista, o Olhos na Ribeira também tem proposta interessante, tratando sobre a infraestrutura do bairro, a intervenção nos prédios, a criação de modos de interação da população com o rio e até mesmo propondo a conexão entre a preservação do patrimônio ao uso de tecnologias da informação. Um ponto interessante deste projeto é a proposta de transformar parte do bairro em uma espécie de reduto de startups, com o projeto Ribeira Living Lab.


Estes projetos já têm cinco anos desde que foram publicados e, além deles, a revista Projetar conta com diversos projetos pensados para a Ribeira. O mesmo se aplica ao bairro de Cidade Alta, passando atualmente por um processo assustador de esvaziamento.


Outro ponto primordial para associar a um possível projeto de restauração e revitalização do centro histórico é a existência de uma rota turística que divulgue e valorize o valor histórico-cultural daquela região. Esporadicamente já existem alguns passeios e caminhadas pelo centro histórico, quase todos iniciativas de historiadores da cidade, mas também temos algumas propostas interessantes sendo pensadas na academia.


Uma delas foi publicada por Andréa Costa e Patrícia Amaral em um livro eletrônico intitulado “Centro histórico de Natal: um guia para turistas e moradores” onde elas propõem um roteiro iniciando no prédio do IFRN, na Av. Rio Branco, seguindo para a praça André de Albuquerque e de lá para a Ribeira através da Avenida Câmara Cascudo, finalizando na CBTU. É uma proposta interessante, mas que pode ser estendida até o Museu da Rampa, finalizando com o por do sol no Rio Potengi.


Então, teoricamente já temos: verba, projeto e roteiro, além de uma certa mobilização social em torno de grupos de resgate histórico no Facebook e atuação de historiadores na divulgação da História local. O que está faltando para que a restauração e revitalização da Ribeira saia do papel de uma vez por todas? Este blog pretende ser ferramenta de discussão e, quem sabe, de mobilização civil para podermos pressionar os representantes a tirar do papel este projeto que se arrasta desde, pelo menos, os anos 90.





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